segunda-feira, 28 de julho de 2014

Noite


Mais um dia...

Daqueles sem graças e vazios em que tudo o que seu interior pede é um pouco de silêncio e paz para que tudo o que sua cabeça vem planejando se coloque em prática e se revele produtivo, de alguma forma.
Morcegos e baratas se confundem nas ruas noturnas, assim como carros e caminhões quase se fundem no trânsito infernal do meio-dia.
Formigas queimadas pela enorme bola de fogo que aponta no céu todos os dias, sucumbindo a humanidade ali, debaixo de seus olhos de faísca. 
Máquinas de serra: serrar piso, serrar aço, serrar ferro, vidro... Máquina de costurar, de estampar, de colar, descolar, alinhar, balancear, compressores, vozes, gritos e o que mais incomodava... Os saltos da vizinha no andar de cima aumentando cada vez mais a vontade de preparar uma artilharia pesada para abatê-la como um pato no ar abatido por uma carabina antes mesmo que se resolva levantar e subir um lance de escadas para esbravejar e falar coisas desnecessárias à uma loira totalmente desligada das necessidades artísticas.
Ana Maria Braga, Bem Estar, Fátima Bernardes... Ninguém além de mim se cansa desses programas toscos que marcam as manhãs com náuseas todos os dias? Odeio manhãs! Odeio ter que acordar todas as manhãs!
Na ânsia de tudo mudar, pode-se sentir o coração se acalmar quando o sol cai à margem do horizonte, o bebê pára de chorar, as formigas se refrescam, as britadeiras, serralherias e oficinas param de funcionar. E o silêncio vem...
Junto com ele a inspiração. Os dedos se mexem sozinhos em direção à caneta. O cheiro de papel branco e novo fascina, e os olhos não sossegam até que todo o espaço vazio do papel esteja preenchido de letras miúdas e conteúdos importantes, longe das atividades cotidianas do dia-a-dia.
A madrugada pede silêncio, ousadia e conhaque. Tudo o que se precisa para fazer o progressivo ritual de escrever. Mas é necessário mesmo fazer tudo isso simplesmente para escrever?
Não simplesmente, afinal, escrever envolve muito mais do que um simples verbo, uma simples ação, o simples fato de pegar uma caneta e preencher um pedaço de papel. Acontece que, somente quem lê sente a necessidade de escrever, o que é diferente de vontade. 
A madrugada não inspira apenas palavras. Sujos de coturno, limpos sem moeda, podres em terno de veludo e milionários em sua ânsia de exibir todo o seu poder nas ostentarias variadas da cidade também caem em suas armadilhas e ciladas. Em cada esquina se pode encontrar a glória e o perigo, o que são meros mitos, quando se está num quarto quente de casa em silêncio, ouvindo a quietude, inspirando inspiração com o aroma de essências a lhe preencher a mente, pronto para se deixar envolver por toda atmosfera pacífica presente ali. E no fim, ao descarregar todas as idéias da mente, preenchê-las com idéias diferentes é o atrativo para o sono e o descanso.
Em fim em paz... por pouco tempo, já que no outro dia começa tudo de novo...

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